Choque de mundos


Do nada lhe bateu uma agonia, Juan, não sabia por que, mas sentia algo ruim sobre o mundo naquele dia. Seu companheiro no serviço sentia que ele não estava bem durante o almoço, lhe perguntou o que afligia a sua mente. Deu de “João sem braço” e fingiu que estava bem. A agonia apenas aumentava, porque ele não sabia responder a pergunta.
Ele remexia a mente e não encontrava uma resposta especifica do motivo do teu tormento, mas encontrava nele uma pessoa que jamais havia percebido. Olhando no espelho de sua cabeça começou a ver uma pessoa insatisfeita com a maioria das coisas que giravam em torno dele. Sentia-se pequeno, fraco, sem poder para mudar a sua vida.
Voltando ao trabalho após o almoço naquele dia, ainda envolto na nuvem de incertezas, sentou-se tranquilamente em sua cadeira e voltava aos seus afazeres, quando um barulho de vidro quebrando, quebrou o silêncio e a concentração. Havia vozes gritando e imaginou que seriam dois bêbados discutindo na rua. Foi até a janela onde já encontravam outros curiosos de seu trabalho, quando olhou ficou surpreso. Um mendigo segurando um casco de cerveja quebrado. Bradava indignado com alguém da empresa. A empresa era separada da rua por uma grade, e naquele momento um homem gritava com outro pelo lado de fora com um caco de vidro na mão. Dizia:

_Vem aqui fora. Quero ver se você é homem. Ai dentro você é homem...

Quem via sem entender o contexto da situação logo pensava:

_Precisamos chamar a polícia, o homem parece estar louco.

Mas era preciso um pouco mais de observação para qualquer atitude. Ainda mais porque em alguns segundos alguém que também estava na janela deu a explicação.

_Este homem estava cagando ali no passeio, ai eu comentei com o pessoal. Não sei o que deu no Carlos que ele foi lá fora e gritou com o cara. Agora esse mendigo ta lá puto com ele.

Juan e todos ali observando começaram a escutar de verdade o que o mendigo dizia:

_Você, playboy, é graduado em sei lá o que. É pós-graduado em não sei o que. Devia ter vergonha do que fez. Devia saber que dessa grade aqui pra fora é diferente, diploma não ajuda a sobreviver. Você não conhece o que é viver na rua. Se você estivesse aqui no meu lugar não duraria um segundo.

Engraçado que ao ver aquilo, Juan sabia que o mendigo falava para o Carlos, mas ele sentia que aquilo era direcionado para ele. Alguém do seu lado então falou:

_Pior que o que ele está falando é verdade.

Todos ali então se entre olharam, calaram-se e voltaram ao trabalho.
Juan se sentiu pior ainda no resto da tarde.

Vidraça

Olho a vidraça
nela vejo os teus olhos
pegando fogo dentro de mim
mas é o reflexo da vidraça
da minha ilusão
da janela do meu quarto vazio
mudo
de seu silêncio que deixa o vazio cheio da elegância que me faz olhar a vidraça
nela vejo os teus olhos
pegando fogo dentro de mim
mas é o reflexo da .vidraça
da minha ilusão
da janela do meu quarto vazio
mudo
de seu silêncio que deixa o vazio cheio da elegância que me faz olhar a vidraça
nela vejo os teus olhos
pegando fogo dentro de mim
mas é o reflexo da vidraça da minha ilusão
da janela do meu quarto vazio
mudo
de seu silêncio que deixa o vazio cheio da elegância que me faz olhar a vidraça
nela...
e não me canso...

Sorriso morto

Sorriso involuntário

Que brota sem se ver

De um dia inacabado

Terminado sem te ter

Com um prazer cortado

Se sente derrotado

Quem me dera planejado

Uma noite com você

Só o silêncio lembrado

Do tato

Do meu contato

preencheu-me

A bocarra de dentes

Do fato não consumado

Do dia inacabado

Do prazer cortado

Com um sorriso involuntário